Autor: Dr. Dimas Democh Jr
Cada vez mais atletas utilizam substâncias e procedimentos proibidos para melhorar os resultados, aumentar a resistência ou inibir a dor. Frequentemente, os noticiários informam que mais um atleta foi acusado de dopping. O caso mais impactante neste ano foi o do ciclista americano Lance Armstrong que assumiu ter utilizado substâncias proibidas.
O atleta que foi sete vezes campeão da Volta da França, principal competição da modalidade, confessou ter utilizado testosterona, cortisona, hormônio do crescimento, EPO e até mesmo transfusão do próprio sangue para obter melhores resultados e desempenho de alta performance.
Recentemente, Deco, jogador do Fluminense foi acusado de dopping e seu julgamento está marcado para a próxima sexta-feira, dia 14, no Tribunal de Justiça Desportiva do Rio de Janeiro. O caso de Deco é semelhante ao do jogador Carlos Alberto, do Vasco da Gama, que foi julgado e absolvido no dia 22 de maio. O jogador foi acusado de utilizar furosemida, substância diurética que auxilia na eliminação de líquidos do corpo, podendo ser utilizada para emagrecer. Além disso, também é usado para que atletas escondam anabolizantes e outros produtos vetados pelos regulamentos esportivos que tenham ingerido. Carlos Alberto foi absolvido ao argumentar que a presença da substância teria sido causada por erro do laboratório de manipulação de medicamentos.
Mas o que é realmente considerado dopping?
Segundo o dicionário da língua portuguesa, dopping é o “uso ilegal, por um atleta, de substâncias químicas que lhe aumentem o desempenho”. Já o mestre e doutor em fisiologia do exercício, Dr. Turibio Leite de Barros, afirma que os critérios para caracterizar uma substância como dopante são muitas vezes subjetivo. “De maneira geral, pode se dizer que as substâncias consideradas dopping trazem um benefício artificial e de efeito farmacológico, alterando o desempenho do atleta, seja na melhorando a performance, aumentando a resistência ou até mesmo inibindo a dor”, explica.
O médico e especialista em medicina do esporte e exercício, Dr. Dimas Elias Democh Junior, acrescenta que o dopping, além de alterar a performance do atleta durante uma competição esportiva e fora dela, também é potencialmente prejudicial à saúde do atleta e contrário ao espírito da competição. “Os fundamentos do código mundial de antidopping buscam preservar os princípios básicos do esporte e o espírito esportivo, como valores de ética, saúde, excelência no rendimento, dedicação, respeito às regras, respeito a si próprio e aos outros participantes”, afirma Dr. Democh.
No entanto, nem toda substância exógena é considerada dopping. Esse grupo de substâncias deve ser separado entre nutrientes e medicamentos. Afinal, os suplementos também atuam no desempenho de um atleta e não entram na lista dos produtos considerados dopping. Até mesmo os suplementos que auxiliam na recuperação não podem ser considerados dopping, a menos que sejam medicamentos ou estejam na lista de produtos proibidos. O atleta pode utilizar substâncias exógenas e métodos como recursos ergogênicos, ou seja, que são capazes de melhorar o desempenho, mas que não trazem risco à saúde e não estão na lista de substâncias ou métodos proibidos pela World Anti-Dopping Agency (WADA). Dr. Democh exemplifica citando a estratégia individualizada para o consumo de carboidratos, proteínas e aminoácidos pré, durante e pós competições ou treinos.
A cafeína, por ser um composto com efeito de estimulante psicomotor já foi considerada dopping pela WADA. No entanto, desde 2004, ela está na lista de substâncias monitoradas, porém seu uso não é mais proibido como possível recurso ergogênico.
Algumas substâncias não tem o efeito positivo na performance do atleta, mas também são consideradas dopping, como no caso das drogas de consumo social, como maconha e cocaína. Segundo o Dr. Turíbio, essas substâncias pioram o desempenho do atleta, mas são consideradas dopping por ser contrários ao espírito da competição.
Procedimentos considerados dopping.
Há ainda outras técnicas que mesmo sem ser estar associado a um medicamento são consideradas dopping. Dr. Turibio conta que os critérios para considerar uma substância ou procedimento como dopping são subjetivos. Um exemplo é a transfusão do próprio sangue do atleta antes das provas que melhora a resistência do competidor. Esse procedimento, utilizado pelo ciclista Armstrong, é considerado dopping e proibido pelas entidades esportivas.
Já as estratégias de intervenção psicológicas para o aumento de performance, como por exemplo, a hipnose, não são consideradas dopping. “Essas estratégias de intervenção psicológica podem agir como recursos ergogênicos a medida que podem melhorar a performance do atleta”, explica Dr. Democh. No entanto, Dr. Turíbio diz que os procedimentos psicológicos ainda não entram no contexto atual do dopping e não há uma legislação específica ainda, por ser uma área ainda de conceito incipiente.
Dopping X Alto desempenho
Historicamente existem relatos que desde os jogos Olímpicos da antiguidade atletas ingeriam chás com substâncias capazes de melhorar o desempenho nas competições. Segundo Dr. Democh, durante a evolução da prática esportiva se observam, concomitante, a descoberta ou desenvolvimento de substâncias com o intuito de aumentar o rendimento. “A medida que o uso de substâncias ditas como dopping se disseminou no esporte foi necessário criar mecanismos que coibissem a prática, tanto para preservar a saúde dos atletas pelo uso excessivo destes fármacos, tanto para que os atletas competirem em igualdade e preservando a ética no esporte”, ressalta o médico do esporte.
A evolução da ciência do esporte com a melhora do treinamento e o uso de novos recursos ergogênicos ocorre em paralelo com a produção de fármacos proibidos. Dr. Democh acrescenta que a soma dessas duas variáveis se torna atrativa ao atleta, independente dos danos causados à saúde, pela melhora rápida do rendimento e pelo maior potencial de vitória nas competições.
Dr. Democh acredita que as regras atuais do dopping não atrasam o desenvolvimento de novos patamares de performance. As agências de antidopping, enquanto na sua função reguladora, visam manter os princípios da prática esportiva e a saúde dos atletas que devem competir em igualdade.
Fiscalização do dopping
Atualmente há uma indústria do dopping voltada para melhora no rendimento dos atletas e que tem como retorno vultosos lucros quando se alcança a vitória. Em alguns casos, isso possibilita o desenvolvimento de novas substâncias que somente serão descobertas mais tarde pelas agências regulatórias. Dr. Democh afirma que investimentos contínuos e cada vez maiores devem ser feitos para que se coíba e detecte precocemente essas substâncias. “Punições mais rigorosas e papel educacional desde as categorias de base também são imprescindíveis para a eficiência no controle do antidopping”, diz.
Autor: Dr Dimas Democh Jr